O avanço do conhecimento acelerou nas últimas décadas e entre as áreas que mais têm mobilizado a atenção e a pesquisa destacam-se as ciências biológicas que nos têm permitido compreender melhor a vida, desbravando mitos e mistérios de remota antiguidade e abrindo portas a novos saberes.
Nas ciências da vida uma se assumiu de inegável importância ao ponto de a ela se juntarem muitas outras como a Genética, a Química, a Física, a Ecologia, a Antropologia, a Paleontologia, a Sociologia, a Computação, a Psicologia, a Farmacologia e disciplinas médicas como a Neurologia e a Psiquiatria: trata-se das atualmente designadas Neurociências.
Estas centram-se no estudo das estruturas e funções do sistema nervoso, muito em especial a neuroplasticidade, a transmissão sináptica, os sistemas reguladores da homeostase, as bases biológicas das perturbações neuropsiquiátricas, a cognição e o desenvolvimento.
Este novo e imenso campo de estudo divide-se assim cada vez mais em disciplinas autônomas como a Neurociência Molecular, a Neurociência Celular, a Neurociência dos Sistemas, a Neurociência do Comportamento e a Neurociência Cognitiva onde se têm destacado grandes investigadores e ocorrido inúmeras descobertas.
O interesse crescente pelo estudo do cérebro e do homem como ser consciente e pensante levou a que a década de 90 do século XX fosse declarada a "Década do Cérebro" tendo sido atribuídos avultados subsídios para incremento da investigação científica e que resultou numa enorme produção de novos saberes. Daí resultariam posteriormente quatro grande projetos internacionais atualmente em curso e em que estão envolvidos numerosos organismos públicos e centros de pesquisa: o Human Brain Project's financiado pela União Europeia, The BRAIN Initiative promovido pelo Governo dos Estados Unidos da América, o Human Connectome Project e o Allen Human Brain Atlas.
A investigação em neurociências tem como missão o desenvolvimento de projectos com uma vertente psicossocial, biológica, cognitiva e clínica integradas. Pretende a ligação às Neurociências Experimentais/Básicas como possibilidade de amplificar conhecimentos sobre o sistema nervoso e suas relações com as funções cognitivas e o comportamento, tanto em condições normais como em situações de doença socorrendo-se de diversos processos e tecnologias de ponta. Os novos conhecimentos obtidos sobre o sistema nervoso têm permitido a expansão da neurociência aplicada a novos campos do universo humano como a neuroeducação, a neuroeconomia, o neuromarketing, a neuropolítica além das mais variadas aplicações médicas (neurologia, neurocirurgia, neuropatologia, neurofarmacologia, neuroquímica, neurobiologia, neuropsiquiatria, neuropsicologia, neuroanatonomia, neurocardiologia e a medicina em geral) assim como outras atividades humanas como as esportivas onde tem sido possível melhorar o rendimento atlético e os objetivos de competição.
As pesquisas em Neurociências ajudadas pela Paleontologia, a Antropologia e da Biologia Evolutiva também têm sido de grande importância não apenas para a elaboração da história do ser humano e do seu organismo bem como a sua evolução mental e cultural.
Por último, as neurociências nos ajudam a procurar respostas para as velhas perguntas que datam dos primeiros grandes pensadores: quem somos nós? De onde vimos? E como chegámos ao ponto onde nos encontramos hoje?
Não estranhamente quanto mais sabemos mais parece haver matéria por descobrir. Será uma eterna busca que satisfaz nossa curiosidade expansiva - uma característica tipicamente humana, própria de um cérebro amplo, complexo e multifacetado.
Considerando o sistema nervoso como um conjunto intricado de subsistemas e órgãos que têm a finalidade de integrar e regular o funcionamento do corpo - permitindo não só que atuemos como um todo integrado mas que também nos adaptemos ao mundo, às incertezas, ao desconhecido e à realização de projeções para o futuro - teremos de reconhecer que se trata de uma complexa rede de informação, trabalhando sob as mais variadas condições ambientais e segundo modelos e processos de computação de grande perfeição.
O encéfalo, no qual está integrado o cérebro, é o centro do sistema nervoso.
Este ramifica-se por todo o corpo e participa ativamente nas diversas atividades humanas (locomoção, sensações, perceções, sentimentos, pensamentos, planejamento, criatividade, etc.) e na homeostase biológica que visa manter o equilíbrio adaptativo do organismo face a exigências ambientais e orgânicas (o "milieu" interno).
Estruturas muito antigas como o tronco cerebral medeiam os elementos básicos do fluxo de energia tais como os estados de excitação e de alerta e o estado fisiológico do corpo (temperatura, ritmo cardíaco, respiração). Sobre aquela região vital, comum a outros animais, situa-se o tâlamo que trata das informações exteriores e as leva para as estruturas superiores do encéfalo como o neocórtex passando pelo sistema límbico que medeia as emoções, a motivação e o comportamento.
O sistema nervoso apresenta inúmeras aptidões e faculdades inatas devido à estrutura de seus órgãos e tecidos, compostos por moléculas e células capazes de detetar variações de energia, transformá-las em sinais químicos e elétricos e transmiti-los rapidamente a outras partes do próprio sistema nervoso e do corpo em geral.
Três características do sistema nervoso se destacam dos demais sistemas orgânicos: a rapidez de ação, a flexibilidade e a adaptabilidade.
São estas características que nos permitem conceber a realidade, ter noções como passado e futuro, aprender e fazer novas associações.
O cérebro desenvolve-se através de um processo dependente da experiência e da estimulação. Ao longo da vida acumula um acervo formidável de conhecimentos que são registados num complexo sistema de memórias.
É por conseguinte útil termos um conhecimento das estruturas do sistemas nervoso e de como interagem: desde o interior das diferentes células neurais até aos grande grupos (redes) de células nervosas (neurónios, neuroglias, etc.).
Cuidados preventivos permitem manter um sistema nervoso e psicológico saudável. Está provado que um número muito considerável de perturbações e défices mentais e neurológicos podem ser evitados, revertidos ou ultrapassados sendo de crucial importância apostar num estilo de vida saudável que permitirá salvaguardar o cérebro de inúmeros transtornos que afetam a capacidade de atenção, de senso crítico, de aprendizagem, de sentir e exprimir emoções positivas e de comportamentos sociais ajustados. Da mesma forma, diversas atitudes e hábitos saudáveis de vida poderão evitar lesões várias como os acidentes vasculares cerebrais, as perturbações da atenção e da memória e as demências.
A génese e a evolução do cérebro acompanha todo o percurso de vida do ser humano. O sistema nervoso forma-se cedo, no início da gestação, e desenvolve- se em diferentes ritmos conforme as várias etapas da vida revelando uma plasticidade extraordinária e uma interação ativa e necessária com o ambiente.
Está atualmente demonstrado que as funções do sistema nervoso são cruciais para a formação e desenvolvimento de todo o organismo e para os posteriores confrontos com os diferentes desafios da vida que ocorrem ao longo da infância, da adolescência, do amadurecimento adulto e da terceira e quarta idades.
Especificamente as primeiras estruturas do que virá a ser o cérebro começam a revelar-se aos 18 dias da gestação.
O ser humano é dos animais cujo sistema nervoso leva mais tempo a desenvolver-se, sendo uma das prováveis razões porque se trata de um animal com uma evolução bem estruturada e uma inteligência de múltiplas possibilidades e potencialidades.
A formação da arquitetura do sistema nervoso segue, de certa forma, as etapas evolutivas dos animais desde há 500 milhões de anos.
Com efeito, o cérebro humano possui três camadas ou divisões de acordo com o modelo triúnico ou trino e que se foram formando à medida que a evolução animal avançou. Assim, a neurulação é a etapa crucial em que se edificam as primeiras e minúsculas estruturas do que virá a ser o paleoencéfalo (ou cérebro primitivo) responsável pelas funções de sobrevivência e que perdurarão por toda a vida. Seguem-se muitas outras regiões que se vão formando ao longo dos primeiros anos sendo possível, de forma simplificada, falar-se em "cérebro infantil" desde o nascimento até cerca dos 12-13 anos de idade. Nesse primeiro período, o cérebro passa por um aumento extraordinário de neurônios e conexões neurais, que em seguida são reduzidos durante a adolescência. Esta "poda" neural culmina com a passagem da adolescência para a idade adulta e o cérebro liberta-se de células e ligações não usadas ou desnecessárias.
No período do "cérebro adolescente" conclui-se a formação dos lobos parietais e temporais, associados às áreas espacial, sensorial, auditiva e da linguagem, permitindo uma mais completa aptidão para os desafios sociais e intelectuais. Por fim, segue-se o "cérebro adulto" onde os lobos frontais entram na sua maturidade que se estende até à "idade da sabedoria", a qual corresponde às "idades séniores".
O período a que poderemos chamar de "envelhecimento cerebral" começa em diferentes idades dependendo de múltiplos fatores, o principal dos quais é o estilo de vida (associado à educação, à alimentação, aos vários hábitos adquiridos e à saúde). Para o envelhecimento cerebral concorrem múltiplos fatores que se vão acumulando com o passar do tempo destacando-se a perda de vigor mental e do alcance das aptidões cognitivas.
O "envelhecimento cerebral" poderá ser um período longo de mais de 30 anos com maior ou menor perda de capacidades devido ao aumento da esperança de vida. Nesta fase da vida, o sistema nervoso e em particular o cérebro estão sujeitos a numerosas anomalias e doenças.
A morte cerebral determina o fim da vida sendo a medula espinhal a última estrutura do sistema nervoso central a cessar sua atividade.
Por processos biológicos ainda não totalmente desvendados o ser humano é dotado de uma vigorosa consciência. É essa faculdade que lhe permite conhecer e conceber o mundo, elaborar hipóteses sobre esse mesmo mundo, perceber realidades, realizar representações mentais e conhecer-se a si mesmo.
Diversas propostas biológicas e neurocientíficas estão sendo testadas visando a total compreensão do que é "ser consciente de" e de refletir sobre o modo como ela nos torna seres que, por via disso, se libertaram do determinismo biológico que marca os restantes seres vivos.
Graças à consciência o ser humano pode pensar de forma reflexiva, realizar introspeções, pensar sobre o seu próprio pensar e ajustar-se às diferentes situações, mais ou menos desafiantes, que a vida lhe apresenta - vida onde fatores como o incógnito, a mudança, o inesperado, o acaso e a incerteza predominam durante toda a vida.
Assim sendo, a consciência pode ser perceptiva, somática, cinestésica, afetiva, reflexiva, moral, espiritual e, em nível mais elevado, ser uma consciência sobre o próprio sujeito (o conhecimento de si, autoconhecimento) ou consciência existencial.
Com a cognição somos capazes de aprender, pensar, refletir e usar o conhecimento em função de dimensões superiores do processamento mental como são a inteligência e a criatividade.
A cognição é uma faculdade que permite utilizar a informação e elaborar conhecimentos novos. Ela exige a memória (faculdade de retenção do conhecimento adquirido) nas suas diferentes modalidades (declarativa e não declarativa). O pensamento é, por sua vez, a principal atividade cognitiva e pode apresentar dezenas de configurações: pensamento crítico, pensamento analítico, pensamento criativo, pensamento prático, etc.
A principal área do cérebro especializada em processamento avançado da cognição é ocupada pelos chamados "lobos frontais" e que deram origem à designação de "cérebro executivo". Esta região encefálica, que representa cerca de 30% do cérebro, é também a sede da personalidade e é crucial para o comportamento intencional de ordem superior pelo que ali se realiza boa parte do autoconhecimento, crucial para o julgamento, a reflexão, a empatia, a identidade pessoal e o gerenciamento das chamadas funções executivas. Estas desempenham um papel fundamental na formulação de metas e objetivos, planejamento de estratégias de ação, seleção das habilidades cognitivas necessárias para a implementação de planos, a avaliação dos comportamentos e ainda a antecipação do futuro (previsão, elaboração de cenários e prospetiva estratégica). Podemos considerar que a este nível de elaboração mental estamos em presença de funções metacognitivas.
No capitulo da aprendizagem - um tarefa constante do cérebro - ela exige do cérebro capacidades que têm sido cada vez mais salientadas e que são devidas à neuroplasticidade cerebral ou sináptica (capacidade de adaptação neural que se mantém durante toda a vida em cérebros saudáveis): a modificabilidade cognitiva, a possibilidade de educabilidade cognitiva e a estimulação cognitiva. Neste campo destaca-se o papel determinante das ativações sinápticas entre grandes populações de neurónios situados em diferentes regiões cerebrais e cumprindo distintos papéis que vão desde as emoções (que se formam no sistema límbico) às memórias (que têm como grande estação central de aprendizagem o hipocampo onde as memórias de curto prazo se convertem em memórias de longo prazo).
Para que as aprendizagens ocorram têm de estar asseguradas diversas condições, nomeadamente as chamadas "janelas de oportunidade"e o adequado desenvolvimento neurocognitivo (que inclui a capacidade de pensar sobre o pensar).
Nas aprendizagens surgem também dificuldades que têm como origens um leque de perturbações como o pensamento acelerado, a hiperatividade, a dislexia, a discalculia e outros transtornos orgânicos e psicológicos cuja responsabilidade no insucesso escolar é elevado.
No contexto das aprendizagens devemos considerar as académicas, as sociais, as afetivas e também o desenvolvimento da personalidade (carácter, valores morais, ética e maturidade). São estas que, ao longo da vida, permitem a evolução do crescimento pessoal visando o equilíbrio emocional e o bem estar, e a capacitação para uma sociabilização cooperante e promotora do entendimento e da colaboração pacífica nos diversos domínios da intervenção humana (na política, no trabalho e na educação, entre muitas outras) visando um mundo mais harmonioso, tolerante e melhor.
Nas neurociências, o estudo das emoções ocupa um lugar de destaque por várias razões: não só porque são um fator determinante do comportamento como também porque elas estão no centro de muitas atividades humanas como as sociais, as culturais e as económicas (economia comportamental).
O ser humano é, por natureza, um ser social e afetivo. A afectividade (também conhecida como emocionalidade ou emotividade) constitui um sistema inato do cérebro que permite o estabelecimento de transações emocionais e vinculativas com os outros.
Da afetividade fazem parte as emoções, os sentimentos, as disposições, as atitudes emocionais e os traços de carácter emocional.
Os indivíduos demonstram uma multiplicidade de comportamentos afetivos, de intensidade variável, que, em geral, correspondem e variam com pensamentos e sentimentos expressos verbalmente. Elas pesam também nas deliberações e nos desejos.
Existem muitos tipos de emoções podem dividir-se em “emoções orientadas para os outros” e “emoções orientadas para o próprio”.
A biologia dos afetos refere que estímulos oriundos de todos os órgãos sensoriais - que estão em contato com o mundo externo e também ao próprio organismo (neste caso através da própriocepção) - convergem para a amígdala cerebral (a qual dá sentido às emoções e fornece as reações adequadas) bem no centro do chamado sistema límbico (ou "cérebro emocional").
O circuito se completa com entrada em jogo do hipocampo (importante centro da memória), e o córtex, ambos responsáveis pelos aprendizados e memorização dos detalhes das emoções experimentadas. Essas memórias, antigas ou novas, vão assim balizar as futuras reações emocionais.
A emotividade surgiu nos mamíferos associada aos instintos (localizados no "cérebro reptiliano" também chamado de complexo-R) que estão presentes nos animais mais antigos, alguns com origens há 500 milhões de anos. Até ao aparecimento dos mamíferos dotados de emoções primitivas foram necessários mais 150 a 300 milhões de anos de evolução animal.
Com o aparecimento dos grandes símios e mais tarde dos primeiros hominídeos (há apenas cerca de 10 a 8 milhões de anos) surgiram as emoções.
Com as necessárias modificações cerebrais, o sistema límbico tornou-se mais evoluído com o advento do neocórtex o que viria a proporcionar comportamentos mais elaborados e flexíveis, tais como programar estratégias, experimentar matizes diversas de emoções associadas à consciência e fazer previsões em longo prazo.
A capacidade de controlo emocional melhorou significativamente ainda que estejamos longe do almejado espírito pacificista e altruista para que haja um maior controlo de impulsos básicos motivados pela ira ou pela raiva.
Com a chamada auto-regulação emocional, as pessoas assumem a sua própria capacidade de se auto-controlar, levando sua vida, seus projetos e suas relações com o mundo de uma forma inteligente (inteligências emocional e social). Isso exige habilidades como saber dominar a impulsividade, saber pensar, saber decidir, saber pôr em prática e controlar o impulso de se antecipar por força de alguma forma de recompensa imediata ou a curto prazo.
Também a sua importância no exercício das aprendizagens justificam nosso interesse pelo estudo atento da vida afetiva.
Será que quando morremos a nossa influência na vida humana termina por completo? Aparentemente, sim. Todavia, não é de todo verdade da mesma maneira que, quando nascemos, não nascemos do nada. Se é certo que o corpo morre e a psique encerra a sua atividade temos de considerar que deixamos uma memória genética extensa que vai expressar-se em nossos descendentes. Somos pois, cada um de nós, e antes de mais, um "eu genético", um elo de uma imensa cadeia de seres humanos que se estende por milhares de gerações passadas, presentes e futuras.
Um exemplo simples explica o processo: cada um de nós herdou características de familiares próximos e afastados e que podem expressar-se em campos como a personalidade, o temperamento, a mente, a saúde e a propensão para determinados comportamentos assim como diversos e muitas vezes ínfimos traços fisiológicos mesmo passadas algumas gerações.
Também a nossa herança cultural se faz sentir com maior ou menos intensidade e extensão nos que descendem de nós ou pertencem às nossas "tribos" (religião, tradições, crenças, saberes, etc.).
Sendo o cérebro um sistema vivo que é aberto e dinâmico está permanentemente em estado de mudança. Neste capítulo, os genes detêm um papel determinante visto que têm duas grandes funções: atuam como suportes para as informações que devem passar para a geração seguinte e têm uma função de "transcrição" baseada nas informações codificadas no ADN. Essa transcrição é diretamente influenciada pela experiência atuando no modo como as células nervosas se ligam uns aos outros, alteram a sua força e determinam também a sua morte.
De realçar que os genes não atuam isolados da experiência e da estimulação. Deste modo, o próprio comportamento altera a expressão genética, que depois cria o comportamento. Assim, as mudanças de organização da função cerebral, da regulação emocional e da memória são mediadas por alterações na estrutura neuronal.
A importância de fatores epigenéticos - através dos quais a experiência influencia diretamente a maneira como os genes são expressos - faz com que a mente - que deriva da atividade neuronal - altere o meio fisiológico do cérebro e, assim, ele próprio pode produzir mudanças na expressão genética.
Como seres sociais, as relações interpessoais desempenham um papel organizador da estrutura cerebral durante o seu desenvolvimento durante toda a vida, com especial relevância nos primeiros anos.
Uma particularidade fundamental do cérebro e que está relacionada com o processamento dos estímulos e a elaboração mental é a sua disposição para a crença. Isto é, através do cérebro, nós acreditamos na representação da realidade que constantemente se realiza na mente envolvendo desde perceções e memórias a pensamentos e sentimentos estejam eles situados no nível subconsciente (processado no rombencéfalo) ou no nível consciente (processado no prosencéfalo).
A biologia da crença demonstra pois a importância das relações do cérebro com o ambiente e os outros seres humanos que determinam experiências e aprendizagens de diferença natureza as quais contribuem para o estabelecimento das mais diversas formas de crença, a crença no próprio "eu pessoa" e nas realidades, objetivas e subjetivas, que acabam influenciando a expressão genética e as reações celulares ao ponto de terem impacto tanto na "consciência de si" como no autoconceito, na saúde e nos processos de cura em situações de doença.
A neurociência social procura entender as bases psicológicas e biológicas do comportamento. Este campo pretende responder a perguntas tais como é que o cérebro intervém nas relações humanas? Como é que os sistemas biológicos produzem pensamentos, sentimentos e ações nos indivíduos? Como é que as experiências sociais afetam o corpo, o cérebro e a saúde? Quais são os processos que determinam o carácter, o interesse e a amizade sobre os quais assentam as relação inter-pessoais? Como as relações sociais conduziram à formação de comunidades cada vez mais alargadas e complexas como são as grandes metrópoles?
O estudo visando a compreensão da base biológica dos comportamentos pelos quais percebemos, aprendemos, lembramos e agimos, assim como as ações cerebrais subjacentes a todo comportamento, não apenas a comportamentos de índole motora relativamente simples, como caminhar, gesticular e comer, mas a todas as complexas ações cognitivas que associamos ao comportamento especificamente humano, como pensar, ajuizar, falar, comunicar, criar e planejar são um capítulo central da neurociência.
O estudo do comportamento abrange áreas tão diversas como as puramente funcionais assumidas pela programação genética (comportamentos de defesa ou adaptativos), acionados por estímulos grandemente de origem ambiental embora também possam partir do próprio organismo. Estes comportamentos são francamente observáveis nas crianças com breves meses de idade e em que não existe ainda uma autoconsciência que lhes permita a realização de escolhas e a tomada de decisões.
O comportamento instintivo próprio do ser humano é herdado por meio de genes específicos e apesar de estarem configurados para a espécie apresenta variações pessoais. Destacam-se inicialmente os comportamentos reativos à estimulação ambiental (interna e externa ao organismo), os comportamentos ditados por padrões de ação fixos (semelhantes a reflexos) e os comportamentos aprendidos que se caracterizam pela sua vasta variedade.
Cabe aqui salientar o fato do ser humano demonstrar em geral um comportamento exploratório que supera a de qualquer outro primata. Tem sido esse comportamento exploratório (também chamado de "oportunista") e neofílico, isto é, motivado pela atração de novidades. É este tipo de comportamento que está na origem da civilização, da cultura, da inovação e da criatividade.
O papel do sistema nervoso e, em particular, do cérebro é, neste domínio, vital. Destacam-se capacidades como a orientação temporal e espacial, fatores como a intencionalidade, a vontade e a motivação, a produção de juízos sobre a realidade, a capacidade de aprendizagem contínua, a adaptabilidade, as múltiplas inteligências - com particular destaque para a inteligência interpessoal - a consciência e outros recursos quer inatos quer aprendidos.
Na panóplia dos comportamentos humanos intervêm estados mentais, humores, emoções, paixões, sentimentos, intuições, desejos, ambições e objetivos pensados. Por fim mas não isoladamente deve ter-se em conta o temperamento e a personalidade própria de cada indivíduo.
Apesar do ser humano se distinguir pela sua tendência social inata torna-se imperioso apostar em aprendizagens sociais que aperfeiçoe e aprofunde a qualidade dos relacionamentos. Numa época em que novos meios de comunicação inter-pessoal estão em expansão como sejam as redes sociais virtuais essa área merece um interesse crescente quer da psicologia social quer das neurociências.
Com a revolução digital o mundo ficou envolvido por uma autêntica tecnosfera que está a dar origem a um imenso hipercortex e ao desenvolvimento quer de uma inteligência coletiva que de uma densa rede neural formando uma sociosfera global.
Com as neurociências o estudo do comportamento humano torna-se inseparável do análise da sua natureza social voltada para a cooperação, a competição e também a conflitualidade a qual, sob o ponto de vista da Biologia Evolutiva, constitui um fator determinante de aperfeiçoamento da espécie. As aprendizagens e os comportamentos daí resultantes acabam por dar um sentido à vida humana.
As ideias são fruto do contínuo processo criativo em que o cérebro se mantém. Se na maioria das vezes as ideias se limitam a solucionar problemas de pequena monta, em outras existe a necessidade de ideias "excecionais" (novas respostas para novos problemas).
A capacidade criativa do ser humano deve-se à forma como o cérebro trabalha. Bilhões de ligações sinápticas entre neurónios fazem parte de todo o seu instrumental. São ligações múltiplas, dinâmicas e flexíveis, que respondem às muitas necessidades de pensar, analisar, criar, comparar, antecipar, etc., e que determinam as respostas aos desafios da vida.
Deve referir-se que não existe desenvolvimento da inteligência sem uma afirmação da subjetividade criadora - algo que faz o ser humano diferente dos restantes animais na medida em que essa "inteligência inventiva ou criadora" resultou do fato de, em alguma época da história antiga, uma ou mais das espécies hominídeas se ter libertado do determinismo biológico permitindo- lhes adquirir a aptidão para se afastarem dos padrões de comportamento instintivo e rígido determinado pela programação genética.
O mais interessante da engenharia cerebral das ideias é que ela está sempre a fervilhar em patamares ocultos. É como se a maquinaria das ideias estivesse nos subterrâneos da mente. É no cérebro oculto, longe da consciência, que se formam as ideias. Nesse mundo escondido do inconsciente operam-se trocas constantes de informação pelo que a memória é determinante para a criatividade.
Os cérebros mais criativos estão sempre a deparar-se com ideias novas e a fazer associações que dão origem a outras, numa constante hiperatividade neural. Com isso o ser humano inventa possibilidades e desenvolve respostas adaptativas superiores ao de qualquer outro animal sendo uma das razões para a criação das civilizações e de todo o universo cultural que marca a natureza humana.
O processo criativo pode ser observado no cérebro. Quando existe uma ideia nova pronta a saltar para a consciência capta-se uma rápida subida da atividade elétrica do cérebro, cerca de 30 milésimos de segundo antes da ideia chegar à consciência.
Isso ocorre numa zona chamada "giro temporal superior anterior" localizado perto da superfície do neocortex. Esse pico de atividade origina o "insight criativo".
Em nossa época tão complexa, onde a realidade se vem tornando cada vez mais espessa, a capacidade imaginativa das pessoas e das organizações é mais premente e influente pois dela depende a resposta inovadora e diferenciada dos elementos verdadeiramente competitivos (indivíduos, empresas, cidades, países, etc.) perante os desafios da mudança acelerada que marca nosso tempo.
Não obstante este constante martelar no tema da criatividade a maioria das pessoas e da organizações humanas estão pouco despertas para ele. Por exemplo, o ensino ignora praticamente a criatividade. Aliás, chega a penalizar quem seja criativo. O mesmo se passa com a maioria das organizações que pacificamente aceitam que a criatividade é algo interessante mas na prática recuam quando se trata de enveredar por caminhos que exijam alguma inventividade. Ou seja, parece que, frequentemente, a criatividade assusta. Todavia, se não fosse a criatividade não haveria inovação e progresso.
Vários estudos apontam para o fato de apenas 15% das pessoas serem realmente criativas. Assim, temos uma maioria de 85% que prefere a comodidade do conformismo das ideias e das inovações já comprovadas e aceites.
Não obstante, de acordo com a Biologia Evolutiva, isto não deve ser visto como prejudicial. A Natureza é conservadora. Não se envolve em criações espontâneas. Prefere a evolução adaptativa. Deve então aceitar-se como normal que a maioria da população seja tendencialmente conservadora para evitar cair numa deriva criativa total - e eventualmente anárquica e sem planejamento - que poderia fazer ruir as estruturas sociais em que assentam as comunidades humanas.
Isto não nos deve impedir de levar o espírito criativo a campos onde ela pode ser determinante e diferenciador: é o caso do ensino escolar.
O ensino convencional está fechado ao pensamento criativo dos alunos e tende a eliminar muito do potencial das crianças, as quais se tornam adultos pouco dados a exprimirem uma verdadeira criatividade, não despertando para a inovação que deverá estar presente nas organizações onde mais tarde irão trabalhar. É que, independentemente da Natureza, a sociedade humana evoluiu culturalmente e já não se compadece com organizações e comportamentos excessivamente padronizados, rígidos e vazios de ideias.
O brainfitness, também conhecido como mentalfitness ou neurofitness, é equivalente à estimulação cognitiva e envolve exercícios para exercitar diferentes áreas cerebrais tendo em vista uma maior flexibilidade neural e mental, aumentando não apenas uma melhor e mais rápida resposta a estímulos assim como uma longevidade maior e mais saudável do organismo e dos processos mentais.
O termo brainfitness é aplicado em duas situações distintas: exercícios mentais em prol da capacidade intelectual de concentração, memória e estratégia; e atividade mental para melhoria do bem-estar geral da saúde.
Nesta etapa conclusiva do curso os alunos são convidados a participar num programa de brainfitness orientado para a estimulação da curiosidade, o desenvolvimento da abertura mental e a destruição criativa. Não serão agentes passivos mas participantes ativos em que, eles próprios, se envolvem como "produssumidores" (produtores e atores dos vários exercícios).
Fases do Projecto
a) Estimular a CURIOSIDADE
A curiosidade é natural no ser humano, como em muitos outros animais. Em muitas pessoas, a curiosidade pode ser apenas frívola e ligada aos pequenos eventos do quotidiano. Essa curiosidade está muitas vezes associada a alguma rigidez mental e a uma atitude passiva perante as coisas do mundo. A curiosidade estimula diferentes áreas cerebrais, em especial o Lobo Frontal Direito, o Córtex Visual e Córtex Auditivo. Por outro lado muita da informação é registada no Hipocampo e depois guardada na Memória Semântica (de longo prazo). Finalmente, torna-se numa das bases de trabalho da CRIATIVIDADE.
b) Desenvolver a ABERTURA MENTAL
A Abertura Mental significa a capacidade para aceitar o que é novo, diferente, inesperado, contraditório, ambíguo, não habitual nem rotineiro. Ela exige uma postura acrítica, de aceitação mas não de resignação. O mundo traz todos os dias mudanças de paradigma e alterações nos destinos e nas tendências.
A Abertura Mental é proporcionada pela curiosidade mas também pelo exercício intencional. Ela assenta no propósito da aceitação de novas ideias, conceitos, noções e perspectivas. É interessante verificar que muitas pessoas parecem ter mais dificuldade em ter uma Mente Aberta do que serem curiosas. Abertura Mental pode também ser estimulada através da exploração de visões utópicas do mundo, imaginação de futuros radicais, etc.
O treino da "abertura mental" é explorado todo o Neocortex e em particular os Lobos Frontais assim como o Sistema Límbico (emoções). Mais uma vez o Hipocampo é chamado a intervir assim como o Córtex Visual através do recurso à imaginação criativa e da construção de imagens não arquivadas.
c) Exercitar a DESTRUIÇÃO CRIATIVA
A Destruição Criativa é um exercício de brainfitness que tem a sua fonte nas brincadeiras infantis nas quais as crianças divertem-se desmontando os brinquedos. É uma atividade simultânea de descoberta, curiosidade e reconstrução.
Através da Destruição Criativa estimula-se a mente a ultrapassar os limites da aceitação passiva do mundo tal como ele nos é oferecido. A Destruição Criativa exerce também um efeito relaxante ou, pelo menos, atenua os efeitos do estresse além de abrir as portas para a recriação e o estado de experiência ótima.
TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO
Elaboração da dissertação correspondente.